Na manhã do dia 27 de agosto de 1994,
numa reunião histórica no auditório do Centro de Filosofia e Ciências
Humanas/UFPA, registrou-se formalmente a criação do Grupo de Estudos e
Pesquisas “Eneida de Moraes” sobre Mulher e Relações de Gênero - GEPEM. No dia
seguinte, as associadas reuniram-se na Praça “Eneida de Moraes” como forma de
prestigiar a patrona.
Desse período em diante observa-se a
integração ao GEPEM de pesquisadoras/es de áreas diferenciadas, ao tema
mulheres, gênero e feminismos, a favorecer a inserção de estudos e pesquisas
com a ampliação de marcadores sociais que, historicamente, tornam-se assuntos
de debates na sociedade.
Os
eventos periódicos realizados pelo GEPEM se estenderam além dos muros da UFPA,
a identificar e participar da preocupação e interesse nas discussões sobre a
melhoria da qualidade de vida das mulheres e da luta pelos direitos humanos com
o olhar da cumplicidade acadêmica. Evidencia-se essa trajetória e acumulação de
experiências e o compromisso das/os pesquisadoras/es em procurar agregar, dar
visibilidade e estimular o debate relativo às questões da diversidade de gênero
na Amazônia, ampliando-se a divulgação dos resultados de pesquisas, em
publicações impressas, eletrônicas e em mídia digital.
O
processo de construção de saberes em um espaço onde o conhecimento científico
tem um padrão tradicional, nesses anos de atividades, manteve a presença
constante de pesquisadoras/es da área de gênero em atividades múltiplas e
formatou a transversalidade entre as grandes teorias do conhecimento e os
enfoques contemporâneos, que ora têm evidenciado diferenciais nos marcadores
sociais quando se processam com a perspectiva das relações de gênero e
feminismos. Essa conquista de espaço, pelo GEPEM, com a problemática da
diversidade, expressa-se na produtiva aprovação de pesquisas com temas sobre a
situação feminina, as construções e hierarquias de poder que submetem as
mulheres, as diferenças das relações entre homens e mulheres construídas
culturalmente, as expressões de sexualidades, as questões étnicas, a
interseccionalidade, democracia e participação política – temas que têm
agregado pesquisadoras/es, bolsistas, orientandas/os de graduação e pós-graduação,
com divulgação dos resultados em seminários, encontros, oficinas, movimentos
sociais e outros eventos promovidos e/ou apoiados pelo grupo, não só em nível
local, mas regional e nacional.
Além
da atuação no âmbito acadêmico, o Gepem consolidou sua inserção na sociedade
civil e atraiu importantes parcerias com grupos nacionais e internacionais de
pesquisa e extensão, entre eles, o Museu Paraense Emilio Goeldi, o Women in
Fishing (WIF) Programe of the International Collective in Support of Fish Workers
(uma ONG com base na Índia, cuja consultora Chandrika Sharma, participante de
inúmeros seminários no Pará, foi uma das pessoas desaparecidas no voo MH 370,
da Malasyan Airlines em 2014. A pesquisadora canadense Francine Saillant,
diretora do CÉLAT-(Quebec/Canadá), também parceira, apoiou-se no grupo trazendo
alunos/as com inserção nos estudos nas áreas de pesca e medicina doméstica. Os
movimentos de mulheres do Pará, incluindo o Fórum de Mulheres Paraenses(FMAP);
a União das Mulheres de Belém (UMB), o Movimento de Mulheres do Campo e da
Cidade (MMCC), a Coordenadoria Especial de Integração de Política para Mulheres
(SEJUDH/PA) e outros grupos de agregação, também participaram e ainda
participam dessas atividades.
A
criação do OBSERVE regional, em 2008 – numa parceria com o NEIM/UFBA e a
Secretaria de Política para as Mulheres-PR, promoveu a inserção do GEPEM numa
área com atividades ainda em desenvolvimento no grupo: o levantamento da
situação de violência doméstica contra as mulheres e o monitoramento à aplicação
da Lei Maria da Penha. Esse projeto propiciou ao GEPEM a criação de seu
Observatório Regional Norte e, presentemente, está a contatar com os demais
grupos de estudos de violência doméstica das Universidades da região, agregando
em um Blog, no endereço atual https://observatorioregional.wixsite.com/observeregional
Outra
parceria do Gepem é com o Núcleo de Estudos Interdisciplinares de Violência na
Amazônia (NEIVA/UFPA), formado por um grupo de docentes de várias áreas de
conhecimento da UFPA. Com mais esta parceria amplia-se o apoio aos estudos na
área do judiciário, saúde, tratamento psicológico às mulheres e crianças
vítimas de violência na Amazônia.
Desde
2013, houve um rearranjo nas linhas de pesquisa do GEPEM, estruturadas em sete
eixos: 1) Mulheres e Participação Política; 2) Mulheres, Relações de Trabalho,
Meio Ambiente e Desenvolvimento; 3) Gênero, Identidade e Cultura; 4) Gênero,
Arte e Literatura; 5) Gênero, Saúde e Violência; 6) Gêneros, Corpos,
Sexualidades; 7) Gênero, Feminismos, Interseccionalidade.
Os
seminários temáticos nessas linhas de pesquisa têm priorizado os temas teóricos
sobre a situação das mulheres, as teorias de gênero na perspectiva crítica
feminista, com leituras de livros inicialmente centrados no feminismo
eurocêntrico, como o de Simone de Beauvoir e outros, atuais, que se tornam na
dimensão crítica desse tema, em questões como a raça e a etnia com destaque
para Ângela Davis, bell hooks e outras nesse foco. Maria Lugones Judith Butler, Joan Scott e as vertentes das
áreas específicas das Ciências Sociais, além dos vários eixos feministas, o
feminismo liberal, feminismo radical, feminismo decolonial e o feminismo negro.
H.B. Safiotti e outras feministas e estudiosas brasileiras subsidiam as
leituras pela devida atenção a esses temas.
Desde
2012 criamos, seguindo em franco percurso, a Revista Gênero na Amazônia. No ano
passado foi avaliada e está entre os periódicos da UFPA: https://periodicos.ufpa.br/index.php/generoamazonia - este mês lançado o 23º volume.
Em
2019, um grupo de associadas do Gepem reuniu-se para organizar e propor um
projeto de Curso de Especialização Análise das Teorias de Gênero e Feminismos
na América Latina, aprovado em novembro desse ano. O curso iniciou em março de
2020, mas, devido a situação da pandemia pelo Covid-19, com a decretação da
paralisação de atividades presenciais e não essenciais, houve rearranjo da
programação e dos módulos, horas e tempos, reiniciando em 12 de agosto de 2021.
A finalização deu-se em novembro de 2022 e no momento espera-se a aprovação do
Relatório final do Curso e a emissão dos certificados a 27 concluintes.
Este
2023 celebramos os 29 anos de caminhadas, acadêmica e militância feminista na
UFPA e na sociedade amazônica. Estamos organizando um evento para o final do
mês de setembro/2023, quando apresentaremos novas categorias de estudo e pesquisa
com base nos temas: Mulheres pelo Bem Viver; Justiça Climática e a Combate à
Desigualdade, exposto nos Diálogos Amazônicos. Seguimos as novas discussões
teóricas vivenciando o processo de divulgação do conhecimento. Tema para a
programação: GEPEM 29 ANOS: Luta, Corpo, Território e Resistência feminista
na Amazônia.
A
persistência em mais um ano de vivência acadêmica agregada à presença nos
movimentos sociais e de mulheres, num ano atípico de isolamento social, de
atropelo às lutas democráticas, em quatro anos convivendo com políticas
destrutivas dos direitos de humanas e humanos com grande evidência de casos de
violência contra mulheres, negras/os , LGBTQI+ e acúmulo de casos de
desigualdade, está sendo um outro exercício de experiências para as/os
associadas/os encontrarem, em novas tecnologias de acesso ao público, meios de
transferência de conhecimentos, de oitivas às colegas, alunas e alunos que
estão no mesmo barco de aprendizagem de saberes e práticas que tendem a
reorganizar as agendas presenciais e conferir novo formato à luta, que se
fortalece a cada embate.
Agradeço
às/aos colegas que fazem o dia-a-dia do Gepem a permanência da parceria em mais
um tempo de presença na UFPA.
GEPEM,
PRESENTE!