terça-feira, 24 de abril de 2018

NOTA DE REPÚDIO AO CARTAZ MACHISTA E RACISTA DA XXII FEIRA PAN-AMAZÔNICA DO LIVRO



Este foi o primeiro cartaz que gerou a polêmica 

Foi substituído por este 

 Diante da polêmica gerada pelo cartaz da XXII Feira Pan-Amazônica do Livro, que, na tentativa de representar a diversidade da cultura colombiana, acabou por reproduzir a lógica da colonialidade que subalterniza a mulher negra latino-americana, nós do Grupo de Estudo e Pesquisa Eneida de Morais (GEPEM), da Universidade Federal do Pará, nos somamos às diversas reações críticas feitas a esse cartaz e apresentamos nossa nota de repúdio ao machismo e racismo presentes na imagem.
O cartaz apresenta uma mulher negra carregando uma bacia de livros na cabeça. Segundo os organizadores, uma forma de dar visibilidade às mulheres palenqueras de Cartagena, na Colômbia, país homenageado nesta edição da Feira. As palenqueras de Cartagena são mulheres que estão por todo o centro histórico da cidade vendendo frutas em suas bacias e que chamam a atenção dos turistas pelo colorido de suas roupas, simpatia e formosura. Mais do que isto, são mulheres que carregam uma história de luta das mulheres negras contra a escravidão, o colonialismo, o racismo e o patriarcado. Herdeiras dos povos cimarrones, conquistaram a liberdade ao se refugiarem nos palenques (equivalentes aos quilombos no Brasil) e construíram uma história de vida marcada pela resistência e luta.
O acesso à educação, à leitura e à produção do conhecimento tem sido historicamente negado às mulheres negras, e assim também ocorreu com as palenqueras. Estas mulheres têm sido duplamente oprimidas – por serem mulheres e por serem negras. E uma das formas utilizadas pelo colonialismo e pela colonialidade para oprimir estas mulheres é a negação do seu direito de ler e escrever. Apesar disto, essas mulheres têm resistido e se lançado à ousada tarefa de ler, registrar e interpretar o mundo com sua própria perspectiva, o que é uma afronta à sociedade machista e racista que as subjugou ao longo dos séculos. 
O referido cartaz relaciona-se com essa história de sujeição e luta, ao retratar a mulher negra colombiana e latino-americana como alguém que simplesmente carrega livros, mas não os elabora e escreve. Desse modo, reproduz um imaginário patriarcal e racista, que não valoriza a mulher como produtora do conhecimento.
Ao expressar nossa indignação, conclamamos para que os organizadores da XXII Feira Pan-Amazônica do Livro possam refletir sobre as imagens que publicam, especialmente as referentes as mulheres e não simplesmente ignorar o debate substituindo por outra imagem, pois, o enfrentamento acontece na reestruturação de pensamento e na forma de ler uma imagem. Importante destacar, inclusive, na programação, o engajamento das mulheres colombianas como protagonistas dos debates e reflexões.(A.L.)

Belém, 23 de abril de 2018

Grupo de Estudo e Pesquisa Eneida de Morais (GEPEM/UFPA)
Linha de Pesquisa Gênero, Feminismo e Interseccionalidade

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