Este foi o primeiro cartaz que gerou a polêmica
Foi substituído por este
O
cartaz apresenta uma mulher negra carregando uma bacia de livros na cabeça.
Segundo os organizadores, uma forma de dar visibilidade às mulheres palenqueras
de Cartagena, na Colômbia, país homenageado nesta edição da Feira. As
palenqueras de Cartagena são mulheres que estão por todo o centro histórico da
cidade vendendo frutas em suas bacias e que chamam a atenção dos turistas pelo
colorido de suas roupas, simpatia e formosura. Mais do que isto, são mulheres
que carregam uma história de luta das mulheres negras contra a escravidão, o
colonialismo, o racismo e o patriarcado. Herdeiras dos povos cimarrones,
conquistaram a liberdade ao se refugiarem nos palenques (equivalentes aos
quilombos no Brasil) e construíram uma história de vida marcada pela
resistência e luta.
O
acesso à educação, à leitura e à produção do conhecimento tem sido
historicamente negado às mulheres negras, e assim também ocorreu com as
palenqueras. Estas mulheres têm sido duplamente oprimidas – por serem mulheres
e por serem negras. E uma das formas utilizadas pelo colonialismo e pela
colonialidade para oprimir estas mulheres é a negação do seu direito de ler e
escrever. Apesar disto, essas mulheres têm resistido e se lançado à ousada
tarefa de ler, registrar e interpretar o mundo com sua própria perspectiva, o
que é uma afronta à sociedade machista e racista que as subjugou ao longo dos
séculos.
O
referido cartaz relaciona-se com essa história de sujeição e luta, ao retratar
a mulher negra colombiana e latino-americana como alguém que simplesmente
carrega livros, mas não os elabora e escreve. Desse modo, reproduz um
imaginário patriarcal e racista, que não valoriza a mulher como produtora do
conhecimento.
Ao
expressar nossa indignação, conclamamos para que os organizadores da XXII Feira
Pan-Amazônica do Livro possam refletir sobre as imagens que publicam,
especialmente as referentes as mulheres e não simplesmente ignorar o debate
substituindo por outra imagem, pois, o enfrentamento acontece na reestruturação
de pensamento e na forma de ler uma imagem. Importante destacar, inclusive, na
programação, o engajamento das mulheres colombianas como protagonistas dos
debates e reflexões.(A.L.)
Belém,
23 de abril de 2018
Grupo
de Estudo e Pesquisa Eneida de Morais (GEPEM/UFPA)
Linha
de Pesquisa Gênero, Feminismo e Interseccionalidade
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