terça-feira, 30 de agosto de 2016

GEPEM - AS CAMINHADAS NO PERCURSO ACADÊMICO-MILITANTE


Luzia Álvares –
IFCH/FACS/UFPA
27/08/2016

No início dos anos oitenta, as professoras Edna Castro, Rosa Acevedo e sua então orientanda e discente do NAEA/UFPA Luzia Álvares, pensaram a criação de um grupo de estudos sobre a questão da mulher. As três se reuniram e elaboraram um primeiro documento sobre objetivos e metas de criação do grupo.
Em janeiro de 1992, a representante do então CFCH no Comitê de Pesquisa da UFPA, Profa. Maria Angélica Motta-Maués organizou e realizou, juntamente com a direção e pesquisadores desse Centro, o I Encontro de Pesquisadores do Centro de Filosofia. Nesse evento, foi possível publicizar os resultados de pesquisas e os projetos em andamento que estavam se desenvolvendo naquela unidade acadêmica, reunindo-se sete comunicações no Grupo Temático I – “Questões de Gênero: Identidade, Processos de Trabalho e Participação Política[i].
Promovido pelo NEIM/UFBA, em setembro de 1992, à frente as professoras Ana Alice Costa e Cecília Sardenberg, ocorreu o I Encontro de Pesquisadoras sobre a Mulher e Relações de Gênero do Norte e Nordeste. Esse evento teve a presença de um grupo de docentes da UFPA que estudava o tema mulher - estimulado pela assessora de pesquisa do então CFCH, profa. Maria Angelica Maués que conseguiu recursos junto à PROPESP para que participassem desse encontro na Bahia, culminando com a criação da REDOR-N/NE.
O modelo desse evento estimulou, no âmbito paraense, a que o grupo inicialmente formado no NAEA agregasse outros/as pesquisadoras/es, contemplando várias áreas de conhecimento: História - Profa. Maria de Nazaré Sarges, Profa. Edilza Fontes, Prof. José Maia; Psicologia – Profa. Eunice Guedes e suas bolsistas do PIBIC; Antropologia - Profa. Angelica Motta-Maués; Ciência Política - Profa. Luzia Álvares; Saúde - Dra. Suzanne Serruya (Universidade Estadual do Pará). Literatura – Profa. Eunice Santos. Em seguida a essa adesão, foi feita uma ampla chamada a outros/as docentes da universidade, culminando com a oficialização do grupo. Esse processo constituiu um marco de efeitos colaterais sobre o enfoque da história das mulheres, ao congregar tanto pesquisadoras da UFPA quanto de universidades particulares e estaduais do Pará, formando um eixo interdisciplinar em diversas áreas de conhecimento, como as Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes, Saúde, Educação.
Entre os anos 1992 e 1994, vislumbram-se indícios de que, no ambiente amazônico, a nova temática incluindo a questão da mulher e a perspectiva de gênero estava se tornando um ponto de convergência, um centro de debates, na rede teórica das Ciências Sociais.
Na seqüência de estudos para consolidar a questão emergente, em maio de 1993, o VI CISO - Encontro de Ciências Sociais Norte/Nordeste, realizado em Belém (PA), com o apoio do NAEA, registrou, entre os grupos temáticos, o referente à Mulher e Relações de Gênero, com inscrição de trabalhos de pesquisadoras/es dessas duas regiões.
Outro evento desta vez internacional, em setembro de 1993, abrigou um grupo de trabalho sobre mulher e gênero. A Amazônia e a Crise da Modernização, promovido pelo Departamento de Ciências Humanas do Museu Paraense Emílio Goeldi, à frente a Profa. Maria Ângela D’Incao, registrou O GT Diversidade e Gênero acolhendo a inscrição de cinco trabalhos, sendo quatro selecionados, para a composição do livro A Amazônia e a crise da modernização:Educação e (In)Submissão Feminina no Pará”, de Álvares, M.L.M. ; “Quando chega essa “ visita”, de Motta-Maués, M. A.; “Mulher na padaria dá problema de amores”, de Fontes, E.; e “Uma presença discreta: a mulher na pesca”, de Maneschy, M. Cristina[ii].
Estes eventos são demonstrativos da trajetória marcante de pesquisadoras que mantinham diálogo interdisciplinar com o tema, algumas sendo remanescentes dos primórdios dos estudos, na UFPA, sobre a condição feminina, na década de 70, como Maria Angelica Motta-Maués.
Com isso, foi possível agregar estas pesquisadoras em um grupo de pesquisas e estudos e, na manhã do dia 27 de agosto de 1994, numa reunião histórica, primeiramente, no auditório do então Centro de Filosofia e Ciências Humanas/UFPA, para registrar formalmente a presença do grupo e a relação com a patrona, no dia seguinte, na Praça “Eneida de Moraes” (ainda em projeto) oficializou-se a criação do Grupo de Estudos e Pesquisas “Eneida de Moraes” sobre Mulher e Relações de Gênero - GEPEM.
Desse período em diante, observa-se a integração ao GEPEM de pesquisadoras do tema, favorecendo o planejamento e a realização do I Encontro Amazônico Sobre Mulher e Relações de Gênero, em novembro/1994, com a presença de estudiosos/as do Maranhão, Acre, Amazonas, Amapá, Rondônia e Roraima. Na ocasião, questões relativas à violência doméstica, à exploração rural e às práticas políticas vivenciadas pelas mulheres desses Estados foram discutidas. Os artigos apresentados foram publicados no livro A Mulher Existe? Uma contribuição ao estudo da mulher e gênero na Amazônia. Org. ÁLVARES, Maria Luzia & D'INCAO, Maria Ângela (Belém: GEPEM/GOELDI, 1995), com recursos da FUMBEL, órgão da Prefeitura Municipal de Belém.
As atividades sobre a temática-eixo foram sendo estimuladas pelas associadas do grupo nos cursos de graduação, pós-graduação, projetos de pesquisas e trabalhos de classe, presença nos eventos dos movimentos de mulheres paraenses, apresentação de trabalhos nos encontros locais, regionais e nacionais.
Houve então o II Encontro Mulher e Modernidade na Amazônia em abril/1996 sendo prolífico em apresentação de trabalhos, com cerca de 60 artigos selecionados com temas voltados às questões da desigualdade de gênero e as propostas de luta pelas conquistas da cidadania de qualidade aspirada pelas mulheres e direitos humanos. Como o anterior, os trabalhos apresentados no Encontro resultaram na publicação de um livro em dois volumes: Mulher e Modernidade na Amazônia. Vol I. Belém: CEJUP, 1997; e Mulher e Modernidade na Amazônia. Vol II. Belém: CEJUP, 2001. Org. D'INCAO, Maria Ângela, ÁLVARES, Luzia e SANTOS, Eunice.
Nesse mesmo ano, em setembro/1996 (23 a 27/09) as associadas do GEPEM organizaram o V Encontro Rede Regional Norte/ Nordeste de Estudos e Pesquisas Sobre Mulher e Relações de Gênero – REDOR, com o tema: Fundamentos Teóricos e Metodológicos de Gênero na Perspectiva Feminista, evento regional que agregou pesquisadoras e estudiosas do Norte e Nordeste, no período. Desse encontro resultou o livro: Desafios de Identidade: espaço-tempo de mulher. Org. ÁLVARES, M. L. M. (Org.); SANTOS, E. 1. ed. Belém: CEJUP, 1997. v. 1, 487 p.
No período de 1998 a 2008, os projetos nas linhas de pesquisa, a formação de bolsistas e a apresentação de resultados em encontros nacionais e até mesmo internacionais continuou em seu desdobramento. Foi também o momento de as associadas realizarem a sua qualificação acadêmica, uma necessidade que se impôs pela nova dinâmica instituída para o avanço da pós-graduação nas universidades. A maioria das “meninas do GEPEM” se doutorou nas várias áreas de conhecimento, nos diversos centros nacionais e locais.
Os eventos periódicos realizados pelo GEPEM se estenderam além dos muros da UFPA e deram a “cara” para identificar esse grupo preocupado nas discussões sobre a melhoria da qualidade de vida das mulheres e na luta pelos direitos humanos com o olhar da cumplicidade acadêmica.
Com o III Encontro Amazônico sobre Mulher e Gênero: As faces da diversidade, juntamente com o Encontro da Rede Feminista Norte e Nordeste de Estudos e Pesquisas Sobre Mulher e Gênero – REDOR, em setembro/2008 (23 a 26/09) a festa acadêmica conseguiu participação significativa de estudantes e pesquisadores, com mais de 300 inscrições, 137 trabalhos apresentados, 06 mesas temáticas, a presença de estudiosas/os nacionais, regionais e locais.
Em 2009, de 17 a 20 de novembro, foi possivel realizar o IV Encontro Amazônico sobre Mulher e Gênero - Mulheres Amazônidas: Imagens, Cenários, Histórias” e o “I Encontro de Pesquisadoras/es Paraenses Sobre Gênero, Mulheres, Cidadania. Este evento apresentou e discutiu a produção acadêmica na área de gênero, regionalmente representada no evento com mesas redondas e trabalhos inscritos, procurando incrementar a continuidade dos estudos e das vinculações do grupo com a sociedade mais ampla, aliando pesquisa, produção acadêmica e atuação política.
O processo de construção de saberes num espaço onde o conhecimento científico tem um padrão tradicional, nestes anos de atividades, manteve a presença constante de pesquisadoras/es da área de gênero em atividades múltiplas e formatou a transversalidade entre as grandes teorias e os enfoques contemporâneos que expunham diferenciais nos marcadores sociais, quando se processavam com a perspectiva de gênero. Essa conquista de espaço pelo GEPEM com a problemática da diversidade pode ser evidenciada na produtiva aprovação de pesquisas com temas sobre a situação feminina, as construções e hierarquias de poder, as diferenças das relações entre homens e mulheres construídas culturalmente, as expressões de sexualidades, as questões étnicas – temas que têm agregado pesquisadores/as, bolsistas, orientandos de graduação e pós-graduação, com divulgação dos resultados em seminários, encontros, oficinas e outros eventos promovidos e/ou apoiados pelo grupo, não só em nivel local, mas regional e nacional.
Três projetos de pesquisa foram apresentados pela coordenação do GEPEM e aprovados pelo CNPq, entre 2005 a 2010: “Gênero, Política e Representações Sociais (Processo nº 403224/2005-5 - CNPq/SPM); “Os movimentos de mulheres e feministas e sua atuação no avanço das carreiras femininas nos espaços de poder político” (Processo CNPq n.º 402969/2008-1 –CNPq/SPM) e Mulheres na Política: histórias de percursos e de práticas” (Processo CNPq,  n.º 402518/2010). A execução desses projetos foi prolífica em torno de dados referentes à situação das mulheres na representação política e os resultados dos mesmo constam em relatório encaminhados e aprovados pelo CNPq. Considera-se importante essa atividade pois, articulou um grupo significativo de associadas do GEPEM e bolsistas do PIBIC/PIPES/FAPESPA com a produção de materiais sobre o tema em TCCs, relatórios do PIBIC e artigos apresentados em encontros locais e nacionais.
        Além da atuação no âmbito acadêmico, o Gepem consolidou sua inserção na sociedade civil e atraiu importantes parcerias com grupos nacionais e internacionais de pesquisa e extensão, entre eles o Museu Paraense Emilio Goeldi, o Women in Fishing (WIF) programme of the International Collective in Support of Fish Workers (na ONG baseada in India) cuja consultora era Chandrika Sharma (recentemente desaparecida com o avião da Malasyan Airlines). Com Francine Saillant, diretora do CÉLAT-(Quebec/Canadá) e pesquisadora canadense que se apoiou no grupo trazendo alunos/as para inserir-se em nossos estudos nas areas de pesca; os movimentos de mulheres do Pará incluindo o Fórum de Mulheres Paraenses; a União das Mulheres de Belém (UMB) e Grupo de Mulheres do Campo e da Cidade.
A criação do OBSERVE regional em 2008 – numa parceria com o NEIM/UFBA e a Secretaria de Política para as Mulheres, promoveu a inserção do GEPEM numa área que ainda não estávamos com muitas atividades: o levantamento da situação de violência doméstica contra as mulheres e o monitoramento à aplicação da Lei Maria da Penha. Esse projeto propiciou ao GEPEM a criação de seu Observatório Regional Norte e, presentemente, está contatando com os demais grupos de estudos de violência doméstica das Universidades da região, para agregar em um Blog em fase de criação e cujo endereço é  http://www.observeregional-gepem.com/ 
        A mais recente parceria do Gepem se deu com o Núcleo de Estudos Interdisciplinares de Violência na Amazônia (NEIVA/UFPA) formado por um grupo de docentes de várias áreas de conhecimento da UFPA, e entre as quais inclui-se a coordenadora do GEPEM. Com mais esta parceria está se ampliando o apoio judiciário, moral, de saúde e psicológico às mulheres e crianças vítimas de violência.
        Desde 2013, houve um rearranjo nas linhas de pesquisa do GEPEM que hoje estão estruturadas em sete eixos, a saber: 1) Mulher e Participação Política; 2) Mulher, Relações de Trabalho, Meio Ambiente e Desenvolvimento; 3) Gênero, Identidade e Cultura; 4) Gênero, Arte e Literatura; 5) Gênero, Saúde e Violência; 6) Gêneros, Corpos e Sexualidades; 7) Gênero, Educação e Diversidade.
        Os estudos em seminários temáticos dessas linhas de pesquisa iniciaram-se em 2013, constituindo-se em mais uma atividade semanal do Grupo. Priorizaram-se os temas teóricos sobre a situação das mulheres, as teorias de gênero na perspectiva feminista, com leituras de livros clássicos como “O Segundo Sexo” (vol. 1 e 2). Textos de Joan Scott e as vertentes das áreas específicas das Ciências Sociais.
Desde 2006 realizamos uma atividade com o cinema, procurando adequar as temáticos dos filmes com as que estruturam as várias áreas sobre o enfoque feminino. Trata-se do Cine-Gênero que tem propiciado dialogar com outro público em debates sobre a imagem e o enfoque específico que a arte cinematográfica proporciona.
Neste ano de 2016 elegemos para os seminários semanais o tema sobre FEMINISMOS em suas várias abordagens procurando analisar a diversidade de enfoques temáticos que posicionam esse conceito.
        Como se vê, esse movimento de chegadas de atividades criadas para incrementar os estudos sobre os gêneros tem sido sempre dinâmico e dialético.

Esses estudos nos ajudaram a problematizar a noção de sujeito universal e mostrar o caráter hierárquico e assimétrico subjacente à construção de feminilidades e masculinidades. Eles nos ajudaram, também, a quebrar com a noção de identidades uniformes. A dar sustentabilidade ao que hoje as políticas públicas estão multiplicando em nome dos estudos de diversidade e educação. As marcas sociais foram cada vez mais introduzidas nas pesquisas a fim de dar conta da multiplicidade de práticas e representações de mulheres e homens, pautadas em diferenças: étnicas, raciais, status e classe social, geração, sexualidade e orientação religiosa, para destacarmos apenas alguns dos principais marcadores. No percurso destas descobertas da potencialidade destes estudos, a cada dia se acham mais enriquecidas pelas versões da diversidade das áreas de conhecimento e das demandas sociais em problemas emergentes. As “meninas do GEPEM” têm clara a proposta de uma re-visão do percurso desses estudos, em anos de presença do grupo, que evidenciam a multiplicidade de linguagens e de imagens de homens e mulheres que construíram cenários e vivenciaram histórias generificadas no meio amazônico. Com isso, assume-se o desafio de pensarmos o feminino e o masculino a partir de identidades múltiplas que se refletem em similaridades, mas também em especificidades de comportamentos, valores, atitudes e agendas políticas dos sujeitos sociais.
Ao criarem suas vertentes de estudos dentro de áreas de conhecimento onde se posicionaram na academia, continuam a aprendizagem desses estatutos procurando generificar alguns resultados que se institucionalizariam sem a base crítica dos estudos sobre gênero. Ao estarem inseridas em linhas de pesquisa de programas de cursos de graduação e de pós-graduação, incorporaram estas discussões em seus respectivos programas.
Todas essas ações mostram a importância deste grupo de manter suas atividades e continuar aglutinando e dando visibilidade institucional às suas atividades, ampliando a rede de pesquisadores e pesquisas e solidificando ações e intercâmbios já iniciados e procurando alcançar outras dimensões.
Desse leque acadêmico e militante político temos clara a nossa aliança com os movimentos de mulheres do Pará para subsidiarmos as questões teóricas com as discussões sobre as situações práticas vivenciadas e que se tornam as contribuições necessárias às linguagens e olhares de um cotidiano nem sempre visível ao conhecimento cientifico.
Nesses anos de presença no âmbito acadêmico e na sociedade civil, o GEPEM construiu uma rede de estudos de gênero na Amazônia, contribuindo para o crescimento da produção de saberes, práticas e linguagens e promovendo a inclusão de discussões sobre as masculinidades e as minorias sociais. Ao longo desse período de atuação, manteve um fluxo permanente de atividades no formato de palestras, cursos, pesquisas e encontros integrados junto aos movimentos de mulheres e feministas, assim também, discussões específicas relativas ao meio ambiente regional e sobre as inquietações mais recentes da sociedade em torno da discussão sobre a violência doméstica e sexual, trafico de mulheres e de pessoas e de outras ações que tendem a contribuir numa agenda política importante dos movimentos sociais.
Desse compromisso acadêmico consideramos que nos mantivemos nos objetivos iniciais firmados pelas mestras Edna Castro, Rosa Acevedo e Maria Angélica Maués sobre a questão da diversidade de gênero posicionadas na luta pelos direitos humanos.



[i] Os trabalhos apresentados foram os seguintes: “Padeiros e castanheiras em Belém: por que és o avesso, do avesso, avesso...”, de Edilza Fontes (Departamento de História e Antropologia); “Trabalho e saúde/doença mental: um estudo com professores de Primeiro Grau”, de Hilma Koury (Depto. De Psicologia Social Escolar); “Seminário Sobre Mulher – Região Norte/Brasil”, de Jane Felipe Beltrão (Depto. De História e Antropologia); “Imaginário, movimentos sociais e construção da identidade feminina”, de Lindalva Teixeira (Depto. de Metodologia); “Trabalhadoras rurais e engajamento sindical resgate de identidade(s): um estudo no sul do Pará, de Maria Eunice Figueiredo Guedes (Depto. de Psicologia Social escolar); “Memórias esquecidas” de imagens construídas: das idéias feministas (1910) à organização do movimento sufragista no Pará”(1931)”, de Maria Luzia Miranda Álvares (Depto. de Ciências Sócio-Políticas); “A condição feminina em Belém no período da borracha (1870-1914)” , de Marinete dos Santos Silva (Depto. de História e Antropologia).
[ii] Cf. D’INCAO, M. Ângela e SILVEIRA, Isolda Maciel. A Amazônia e a Crise da Modernização. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1994, 592 p.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

CINE–GÊNERO - “NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO”



TEMA: SOLIDARIEDADE E AFETO NAS RELAÇÕES DE GÊNERO
(GEPEM 22 ANOS)

“NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO” (C'eravamo tanto amati,1974), de Ettore Scola (2h)
Dia: 30/08/2016
Hora: 9:00h
Local: Auditório do IFCH (altos)/Campus da UFPA
Debatedores: Maria Angelica Maués
                    Luzia Álvares
                   Telma Amaral
Debate-
Coffee Break –
Certificado de participação – 4 h
O enredo trata da história de três italianos – Gianni (Vittorio Gassman), Nicola (Stefano Satta Flores) e Antonio (Nino Manfredi) – que se tornam amigos na Resistência de combate ao nazismo, durante o ano de 1944, na Segunda Guerra Mundial. Scola compõe um painel seguindo 30 anos da vida italiana recortada pelo envolvimento desses três homens, completamente diferentes entre si, que se desencontram em uma outra batalha, a de conquistar o amor de uma mulher, Luciana (Stefania Sandrelli). Ela se torna a inspiração das estratégias que eles constroem para reconhecer a quem ama e nisso os quatro se desencontram sem perder a amizade. Há desilusão dos ideais que construíram percebendo que não mudaram o mundo mas mudaram algumas concepções.


22 ANOS DE ATIVIDADES – GEPEM /UFPA 2016


 Em 27/08/1994, um grupo de docentes, pesquisadoras/es e bolsistas da UFPA e UEPA criava o GEPEM/UFPA – Grupo de Estudos e Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero”. Houve uma reunião histórica para registrar formalmente a presença do grupo, no auditório do então Centro de Filosofia e Ciências Humanas/UFPA, e, no dia seguinte, na Praça “Eneida de Moraes” (ainda em projeto) oficializando-se a criação do Grupo.
Para celebrar estes 22 anos de atividades pensou-se em uma sessão de Cine- Gênero, com um filme cuja trama vinculasse temas com as relações de gênero, amor, família, amizade e solidariedade, sendo escolhido “NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO” (C'eravamo tanto amati,1974), de Ettore Scola. Será no dia 30/08 às 9:00h, no Auditório do IFCH (altos)/Campus da UFPA.
O enredo trata da história de três italianos - Gianni (Vittorio Gassman), Nicola (Stefano Satta Flores) e Antonio (Nino Manfredi) – que se tornam amigos na Resistência de combate ao nazismo, durante o ano de 1944, na Segunda Guerra Mundial. Scola compõe um painel seguindo 30 anos da vida italiana recortada pelo envolvimento desses três homens, completamente diferentes entre si, que se desencontram em uma outra batalha, a de conquistar o amor de uma mulher, Luciana (Stefania Sandrelli). Ela se torna a inspiração das estratégias que eles constroem para reconhecer a quem ama e nisso os quatro se desencontram sem perder a amizade. Há desilusão dos ideais que construíram percebendo que não mudaram o mundo mas mudaram algumas concepções.
Após a exibição haverá debate entre os participantes
Um coquetel de congraçamento abraçará a todas e todos associadas/os e participantes. Festejamos a importância da permanência de estudos, pesquisas e demais atividades em que a questão de gênero tem sido uma constante no grupo. Celebração necessária para demonstrar essa persistência acadêmica agregada à extensão.


AGENDA DE ATIVIDADES GEPEM/UFPA - PROPOSTAS 2º SEMESTRE 2016

"AS DUAS FRIDAS" (1939)


Em mais um momento de organização das atividades do GEPEM, somente neste mês de agosto foi possível montar algumas propostas aqui apresentadas para este 2º semestre /2016. Houve preocupação em integrar as discussões sobre as teorias feministas (do 1º semestre) e as práticas de convivência entre grupos e movimentos sociais que têm o gênero como marcador.
Para celebrar os 22 anos de criação do GEPEM/UFPA, neste agosto, pensou-se em uma sessão de Cine- Gênero, com um filme que trate de temática vinculada em gênero, amor e família sendo escolhido “Nós que nos amávamos tanto”, Ettore Scola, 1974. Um coquetel de congraçamento abraçará a todas e todos associadas/os e participantes. Já pensou na importância de uma “tecla” permanente em torno de estudos, pesquisas e demais atividades em que a questão de gênero tem sido uma constante? Precisa-se celebrar, mesmo, essa persistência acadêmica agregada à extensão.
Um dos temas que não foi tratado no primeiro semestre - feminismo pós-colonial – iniciará esta nova fase da agenda, em setembro, a ser apresentado pela Doutora em Educação Adriane Raquel Santana de Lima, Professora da UEPA (e também do GEPEM). Título – “NÃO SOMOS UMA, SOMOS DIVERSAS; POR UM FEMINISMO DECOLONIAL”. Esse tema oferece motivo para apresentar–se em imagens. Há muitos filmes latino-americanos e de outras nacionalidades que tratam das relações de gênero nessas sociedades. Estamos na escolha de um título para a exibição nesse mês.
Em outubro, será a ocasião propícia para a exposição de uma temática não evidenciada teoricamente – participação política. E nesse período, a questão central registra as eleições municipais com candidaturas de homens e mulheres aos cargos parlamentares (vereadores) e majoritários (prefeitos). Dessa forma, um tema candente a propor é: “GÊNERO E POLÍTICA: PODER, PODERES” expondo-se em seminário a prática de polític@s em suas diferentes e atualizadas expressões de gênero, nos eixos de participação formal e não formal, as políticas de gênero e as políticas étnicas.
Outra atividade nesse mês é a exibição de um filme onde o tema do seminário tenha repercussão em imagens.
O mês de novembro inicia com uma data cujo tema ainda não foi debatido no grupo: a Morte. E a proposta é exibir um filme sobre o assunto GÊNERO E MORTE. Áreas de conhecimento como a antropologia, a sociologia, a filosofia, a literatura certamente terão focos para a discussão. A Profa. Adelma Pimentel propôs uma oficina “sobre solidariedade, com base no escopo fenomenológico heideggeriano sobre a nossa condição existenciaria de seres-para-a-morte, nossa condição ontológica; chamando os interessados em vivenciar a manifestação da existência através do pronunciamento da palavra dialogada: vida-morte.”
Em meados desse mês a Profa. Eunice Santos está propondo uma oficina ou minicurso envolvendo literatura ou linguística.
E no final de novembro teremos uma oficina: “POR UMA ESCRITA NÃO SEXISTA”, a ser ministrado pela Profa. Jorgete Lago (UEPA).
Para o mês de dezembro a proposta é apresentar uma síntese de práticas através de um “SARAU – GÊNERO E EXPRESSÕES ARTÍSTICAS” quando teremos Teatro, Dança, Poesia, Literatura, Cinema em sessões de expressão dessas artes. Sendo o mês do Natal e da passagem de ano poderíamos fazer as sínteses nesse foco?
As datas desta agenda ainda estão sendo negociadas. Até o final desta semana estaremos com os registros acertados pelo encaminhamento de propostas de tod@s associad@s. Para este e-mail e da secretaria do Gepem.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER - 10 ANOS - LUZIA ÁLVARES



Em 7 de agosto de 2006, o presidente Lula promulgou no Brasil a Lei 11.340/06, mais conhecida como Lei Maria da Penha, ganhando este nome em referência à Maria da Penha Maia Fernandes, que durante vinte anos denunciou e lutou para que seu agressor – seu marido - fosse preso. Mas apesar de 100% das brasileiras conhecerem a Lei, promulgada há dez anos, uma em cada cinco mulheres já foi espancada pelo marido, companheiro, namorado ou ex. Segundo dados da pesquisa Data Senado realizada no período de 24 de junho a 7 de julho de 2015, elas ainda se sentem desrespeitadas, sendo as causas principais, o ciúme e a bebida (18%). Foram ouvidas 1.102 brasileiras numa série histórica que já se acha em sua sexta sequência, tendo iniciado em 2005 e aplicada a cada dois anos, com mulheres de todos os estados do país.
O enfoque mundial dado à violência contra a mulher revela-se uma questão das mais importantes para a luta pelos direitos humanos e a mais crucial tentativa de desmistificar as formas de relacionamento impositivo do controle masculino, milenarmente tratado como condição “natural”, justificadas em normas sociais baseadas nas relações de gênero, com valorização dos papeis masculinos em detrimento do feminino. O resultante desta valorização é a criação de relações assimétricas entre os dois gêneros fundantes – homem e mulher – que estabelece um tipo de violência mais conhecida como violência doméstica.
Quando, em 1994, a Organização dos Estados Americanos – OEA – realizou a Convenção de Belém do Pará (Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher) a definição tomada como uma das cláusulas do documento assinado pelos participantes foi a de que: “A violência contra as mulheres é uma manifestação de relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres que conduziram à dominação e à discriminação contra as mulheres pelos homens impedindo o pleno avanço destas últimas...”
Os estudos sobre o exercício da violência contra a mulher têm centrado explicações sobre a cultura da hierarquia de poder que domina a sociedade sendo legitimada pela ideologia que criou papéis sociais com base nas diferenciações de sexo. “Os papeis ensinados desde a infância fazem com que meninos e meninas aprendam a lidar com a emoção de maneira diversa. Os meninos são levados a reprimir as manifestações de emoção, amor, afeto e amizade, e estimulados a exprimir outras, como raiva, agressividade e ciúmes. Essas manifestações são tão aceitas que muitas vezes acabam representando uma licença para atos violentos” (portal violência contra a mulher). Por outro lado, a organização do lar reproduziu o confinamento feminino reforçando condições especificas para a esfera do privado, onde a mulher reduziu-se a instrumento de reprodução da sociedade (por via biológica), sendo o trabalho caseiro, na ordem da hierarquia social e econômica, considerado a atividade menos importante. Nessa condição, a mulher foi desviada de participação na vida pública e política, fornecendo-se apoios coercitivos para a sua exclusão, na base de concepções ideológicas atreladas a uma natureza que a configurava como frágil, sensível, pura, emotiva, contrapondo-se à natureza masculina vista como racional, fria, inteligente e forte. Dessa incursão ideológica fortalecida pela literatura, pelo saber médico e pela cultura, criou-se um modelo distinto de homem e outro de mulher. Modelos que deverão corresponder às funções esperadas desses cidadãos aos quais foram atribuídos papéis específicos. A fuga desses modelos levará, muitas vezes, a sessões de punição pelo que não foi seguido. E dessa forma, a penalização manifesta-se pelos extremos de brutalidade e até de sadismo praticados contra a mulher.
Além de ser uma questão cultural, política, jurídica este problema é, também, um caso de saúde pública. Muitas mulheres adoecem a partir de situações de violência em casa.
A violência doméstica ocorre numa relação afetiva, cuja ruptura demanda, via de regra, intervenção externa; deriva de uma organização social de gênero que privilegia o masculino; cria uma rotinização, contribuindo para a experiência da “co-dependência e do estabelecimento da relação fixada. Rigorosamente, a relação violenta se constitui em verdadeira prisão. Neste sentido, o próprio gênero acaba por revelar uma camisa de força: o homem deve agredir porque macho deve dominar a qualquer custo; e a mulher deve suportar agressões de toda ordem, porque seu “destino” assim determina” (Saffioti (2000).
Mas o que tem sido revelado pelas brasileiras?
Segundo a pesquisa do DataSenado 2015 (http://www.senado.leg.br/) a Lei Maria da Penha tende a possibilitar “a prisão em flagrante do agressor, ou mesmo a prisão preventiva, quando houver indícios de ameaça à integridade física da mulher. Além disso, medidas protetivas foram estabelecidas, como: afastar o agressor do domicílio em situações de risco de vida da vítima, ou ainda proibir que ele se aproxime da mulher agredida e dos filhos”. Contudo, se em 2013, 35% das entrevistadas afirmavam que não eram tratadas com respeito no Brasil, em 2015 43% consideraram que essa percepção ainda se observa, possibilitando verificar uma piora de oito pontos percentuais. São as mais idosas (52%) e as menos escolarizadas (53%) que tendem a perceber essa situação, com as empregadas domésticas as que mais sentem falta de respeito (59%), enquanto categoria profissional.
Mas se nos anos anteriores as brasileiras acreditavam menos na proteção da Lei Maria da Penha (66%) hoje houve um decréscimo desse percentual e somente 56% perceberam não proteção com a aplicação da Lei.
Um dado bem evidente é a referência percentual ao agressor – 49% apontaram o próprio marido ou companheiro responsável pela violência praticada, seguindo-se a menção de 21% ao ex-namorado, ex-marido ou ex-companheiro. O namorado também está nesse clima, com 3% denunciando-se vítimas deste tipo. Na contagem geral, a revelação é assustadora: 73% das mulheres vítimas de violência doméstica “tiveram como opressor pessoa do sexo oposto sem laços consanguíneos e escolhida por elas para conviver intimamente”. E outro dado é que desse grupo 26% ainda se acham convivente com seu agressor e 14% permanecem nos estágios de violência.

Muito triste: as mulheres serem tratadas dessa forma por cidadãos de um país! 



http://feminismoaqui.tumblr.com/post/77905118582/